O teor de Jó 28, é muito diferente do restante do livro. Jó esquece suas feridas e todas as suas angústias, e fala como um filósofo ou um virtuoso. Neste discurso há uma grande dose de filosofia moral e também natural; mas a pergunta é, como ela entra aqui?
Sem dúvida não foi somente como um divertimento, ou um desvio da controvérsia; embora, se tivesse sido somente isto, talvez não houvesse nada errado.
Quando as disputas ficam inflamadas, é melhor perder a discussão do que perder a paciência. Mas este capítulo é pertinente e relacionado com o assunto.
Jó e seus amigos tinham discutido as dispensações da Providência para com os ímpios e os justos. Jó tinha mostrado que alguns homens ímpios vivem e morrem em prosperidade, ao passo que outros são aprisionados imediatamente e abertamente pelos juízos de Deus.
Mas, se alguém perguntar a razão por que alguns são punidos neste mundo, e outros não, devemos dizer-lhes que esta é uma pergunta para a qual não há resposta.
O conhecimento das razões de estado no governo do mundo por Deus é oculto de nós, e não devemos ter pretensões a ele, nem buscá-lo. Zofar tinha desejado que Deus mostrasse a Jó os “segredos da sabedoria” (Jó 11.6).
Não, diz Jó, “as coisas encobertas são para o Senhor, nosso Deus; porém as reveladas são para nós” (Deuteronômio 29.29).
E aqui Jó mostra a respeito da riqueza terrena, quão diligentemente ela é buscada e perseguida pelos filhos dos homens, os esforços que eles fazem, os planos que elaboram, e os riscos que correm para obtê-la (v.v. 1-11).
A respeito da sabedoria (v. 12). De modo geral, o seu preço é muito elevado; ela é de valor inestimável (v.v. 15-19). O seu lugar é extremamente secreto (v.v. 14,20,22).
Em particular, existe uma sabedoria que está oculta em Deus (v.v. 23-27), e uma sabedoria que é revelada aos filhos dos homens (v. 28). As nossas investigações sobre a primeira devem ser censuradas, e sobre a segunda, incentivadas, pois ela é do nosso interesse. (Henry, Matthew, Comentário dos Livros Poéticos)
Esboço de Jó 28:
Jó 28.1 – 13: A habilidade humana
Jó 28.14 – 19: O inestimável valor da sabedoria
Jó 28.20 – 28: De onde vem a sabedoria?
Jó 28.1 – 13: A habilidade humana
1 Existem minas de prata e locais onde se refina ouro.
2 O ferro é extraído da terra, e do minério se funde o cobre.
3 O homem dá fim à escuridão e vasculha os recônditos mais remoto sem busca de minério, nas mais escuras trevas.
4 Longe das moradia sele cava um poço, em local esquecido pelos pés dos homens; longe de todos, ele se pendura e balança.
5 A terra, da qual vem o alimento, é revolvida embaixo como que pelo fogo;
6 das suas rochas saem safiras, e seu pó contém pepitas de ouro.
7 Nenhuma ave de rapina conhece aquele caminho oculto, e os olhos de nenhum falcão o viram.
8 Os animais altivos não põem os pés nele, e nenhum leão ronda por ali.
9 As mãos dos homens atacam a dura rocha e transtornam as raízes das montanhas.
10 Fazem túneis através da rocha, e os seus olhos enxergam todos os tesouros dali.
11 Eles vasculham as nascentes dos rios e trazem à luz coisas ocultas.
12 Onde, porém, se poderá achar a sabedoria? Onde habita o entendimento?
13 O homem não percebe o valor da sabedoria; ela não se encontra na terra dos viventes.
Jó 28.14 – 19: O inestimável valor da sabedoria
14 O abismo diz: “Em mim não está”; o mar diz: “Não está comigo”.
15 Não pode ser comprada, mesmo com o ouro mais puro, nem se pode pesar o seu preço em prata.
16 Não pode ser comprada nem com o ouro puro de Ofir, nem com o precioso ônix, nem com safiras.
17 O ouro e o cristal não se comparam com ela, e é impossível tê-la em troca de joias de ouro.
18 O coral e o jaspe nem merecem menção; o preço da sabedoria ultrapassa o dos rubis.
19 O topázio da Etiópia não se compara com ela; não se compra a sabedoria nem com ouro puro!
Jó 28.20 – 28: De onde vem a sabedoria?
20 De onde vem, então, a sabedoria? Onde habita o entendimento?
21 Escondida está dos olhos de toda criatura viva, até das aves dos céus.
22 A Destruição e a Morte dizem: “Aos nossos ouvidos só chegou um leve rumor dela”.
23 Deus conhece o caminho; só ele sabe onde ela habita,
24 pois ele enxerga os confins da terra e vê tudo o que há debaixo dos céus.
25 Quando ele determinou a força do vento e estabeleceu a medida exata para as águas,
26 quando fez um decreto para a chuva e o caminho para a tempestade trovejante,
27 ele olhou para a sabedoria e a avaliou; confirmou-a e a pôs à prova.
28 Disse então ao homem: “No temor do Senhor está a sabedoria, e evitar o mal é ter entendimento”.